Fragmentos de Mark Manders/Fragments of Mark Manders

Published in Portugese as a public information folder for the visitors of the XXIV Bienal de São Paulo in 1998. Two installations of Mark Manders were presented as the Dutch entry of this Biennial

Fragmentos de Mark Manders

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Uma xícara, uma garrafa, uma cadeira: se você tivesse que se descrever com coisas, em vez de palavras, que coisas escolheria? Há tanta coisa em volta de nós, que não seria fácil escolher a certa. Talvez até tenhamos que criar coisas porque as que estão em volta não são suficentes para descrever nosso mundo interno. Pode ser também que encontremos uma coisa que nos descreve em um momento e que, no momento seguinte, já não serve mais. Se já não é fácil se descrever com palavras, com coisas tudo se complica.

 

O artista plástico holandês Mark Manders cria um auto-retrato através de coisas: há dez anos trabalha na obra "Auto-retrato como um prédio". Este prédio é uma construção imaginária corn muitas salas. Um predio em que a arquitetura e a decoração em momento nenhum se repetem. Ele expõe fragmentos de seu "Auto-retrato como um prédio" apresentando partes de seu próprio mundo em uma "língua muito pessoal": coisas. A característica desta língua é que, à primeira

vista, ela parece ter "palavras" bem simples, como uma cadeira, um pedaço de cerâmica, de corda, que se alternam corn objetos feitos por Manders. Mas ao tentarmos entender esta língua, uma caixinha de fósforo não é apenas um simples objeto de uso, mas uma parte essencial da história de Manders, e.o objeto passa a ter um valor que não se esperava encontrar nele.

 

Os objetos criados por Manders, ao contrário de muitas esculturas, não têm a pretensão de representar uma essência própria: nunca tiveram um significado próprio, mas sempre são uma parte integrante da sua história. A própria caixinha de fósforo recebe um valor especial ao se relacionar com as outras coisas agrupadas no mesmo espaço.

 

Fragmentos de um auto-retrato como um prédio, num prédio de verdade. De que forma esses fragmentos se relacionam com o espaço onde são colocados? Da mesma forma que os fragmentos, os próprios objetos, recebem um significado novo ou diferente em relaçao aos outros fragmentos, o espaço também pode ser visto por outro prisma. Manders dá preferência a espaços "esquecidos" ou "inúteis": cantinhos escuros ou corredores por onde todo mundo passa sem notar. O fato de ele instalar seus fragmentos nesses espaços faz com que se tornem parte da sua história. A escala on a arquitetura de um cantinho esquecido torna-se visível com isso e o cantinho também recebe um novo significado. Manders não faz um trabalho especificamente para determinado local, mas faz corn que um local se torne específico com a presença de seu trabalho, fixando-os, desta forma, em nossa memória.

 

Mark Manders trabalha de forma fascinante e o público se confronta com um mundo onde as coisas não parecem mais ser as mesmas. De repente, um pedacinho de corda bem pequeno, colocado com muita atenção em certo espaço, se torna muito importante, porque se torna imprescindível quando relacionado com uma xícara on um objeto feito à mão.

 

Você sempre achou que um pacote de açúcar fosse apenas um pacote de açucar? Já chegou a ver a poesia de uma cadeira de cozinha? Já viu um boneco sem sexo específico inclinar o chão? Diante dos fragmentos de Manders o seu próprio mundo passará a ser visto de outra forma. Nem que seja por causa daquele pedacinho de papel no chão, que faz com que, não somente o chão, mas ele mesmo se torne importante, porque passará a fazer parte do seu mundo também.

 

 

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Mark Manders

"Fragments from Self-Portrait as a Buildiing"

mixed media installation